Não ultrapasse a faixa amarela.


Primeira vez em São Paulo. Paro para esperar o metrô. Uma voz bonita me diz: "Não ultrapasse a faixa amarela. Ela é sua segurança". Pessoas ultrapassavam, eu temia por elas. Não ultrapassei, e fiquei segura.
Pensei comigo mesma. É isso, é exatamente isso que devo fazer. Então, coloquei uma faixa amarela em volta do meu coração. Abri um sorriso no rosto, e toda vez que você chegava perto de mim uma voz bonita dizia: "Não o deixe ultrapassar a linha amarela. Ela é sua segurança". E eu não deixei.
Mas você, malandro que é, fingiu que não ouviu a voz, e quanto mais você se aproximava, mais a voz ficava nervosa! "Não ultrapasse a faixa amarela", dizia ela, mais vezes, mais rápido, mais alto. Até que você me beijou. Pronto, a voz parou de falar. Já não adiantava ela dizer para você não ultrapassar. Você passou a faixa, pulou no trilho e conquistou o coração, me levando com você para os trilhos. Aí, já era. Sua segurança já não existia, minha segurança tinha se partido. Você me desmanchou, a voz se cansou e foi embora. Ainda consegui ouvi-la chorar, de longe. Mas não posso fazer nada. Você ultrapassou a faixa amarela.

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